sábado, 1 de dezembro de 2012

O Encontro

«As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudade
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
 
(…)

Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
(…)»

                              Chuva, Mariza

 O tempo e o espaço tornam possível o encontro! Viver o não tempo e o não espaço no tempo e no espaço é coisa do Eterno, é coisa do Amor, é coisa do Divino!!

23/24.XI.2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Duas quadras

Duas "quadras inéditas" de Agostinho da Silva:

Fugazes talvez no tempo
nos seja eterna a essência
embora não existindo
nos existe a existência.

Não há nada no presente
que eu não louve
embora venham saudades
de futuros que não houve.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Primeiro beijo


Quero o meu primeiro beijo! Há quanto tempo eu não ouvia isto (a canção).. tem graça..

 

Recebi o teu bilhete
para ir ter ao jardim
a tua caixa de segredos
queres abri-la para mim
e tu nao vais fraquejar
ninguém vai saber de nada
juro nao me vou gabar
a minha boca é sagrada

Estar mesmo atrás de ti
ver-te da minha carteira
sei de cor o teu cabelo
sei o shampoo a que cheira
já não como, já não durmo
e eu caia se te minto
havera gente informada
se é amor isto que sinto

Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa

Promete lá outro encontro
foi tão fogaz que nem deu
para ver como era o fogo
que a tua boca prometeu
pensava que a tua língua
sabia a flôr do jasmim
sabe a chicla de mentol
e eu gosto dela assim

Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa

Primeiro Beijo, Rui Veloso

Adeus! (a Deus!!)


Andava eu a ler um livro de poemas de amor, imagine-se.. Até que parei no poema Adeus! de Almeida Garrett.. Não consegui ler mais.. Não queria nada ter lido este poema, senti-o como se fosse um presságio.. será que ele é real?!! Será que é tempo de o ler??!!

Fica o poema e tudo o resto..

Adeus! para sempre adeus!
Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora
Sinto a justiça dos céus
Esmagar-me a alma que chora.
Choro porque não te amei,
Choro o amor que me tiveste;
O que eu perco, bem no sei,
Mas tu... tu nada perdeste;
Que este mau coração meu
Nos secretos escaninhos
Tem venenos tão daninhos
Que o seu poder só sei eu.

Oh! vai... para sempre adeus!
Vai, que há justiça nos céus.
Sinto gerar na peçonha
Do ulcerado coração
Essa víbora medonha
Que por seu fatal condão
Há-de rasgá-lo ao nascer:
Há-de sim, serás vingada,
E o meu castigo há-de ser
Ciúme de ver-te amada,
Remorso de te perder.

Vai-te, oh! vai-te, longe, embora,
Que sou eu capaz agora
De te amar - Ai! se eu te amasse!
Vê se no árido pragal
Deste peito se ateasse
De amor o incêndio fatal!
Mais negro e feio no inferno
Não chameia o fogo eterno.
Que sim? Que antes isso? - Ai, triste!
Não sabes o que pediste.
Não te bastou suportar
O cepo-rei; impaciente
Tu ousas a deus tentar
Pedindo-lhe o rei-serpente!

E cuidas amar-me ainda?
Enganas-te: é morta, é finda,
Dissipada é a ilusão.
Do meigo azul de teus olhos
Tanta lágrima verteste,
Tanto esse orvalho celeste
Derramado o viste em vão
Nesta seara de abrolhos,
Que a fonte secou. Agora
Amarás... sim, hás-de amar,
Amar deves... Muito embora...
Oh! mas noutro hás-de sonhar
Os sonhos de oiro encantados
Que o mundo chamou amores.

E eu réprobo... eu se o verei?
Se em meus olhos encovados
Der a luz de teus ardores...
Se com ela cegarei?
Se o nada dessas mentiras
Me entrar pelo vão da vida...
Se, ao ver que feliz deliras,
Também eu sonhar... Perdida,
Perdida serás - perdida.

Oh! vai-te, vai, longe embora!
Que te lembre sempre e agora
Que não te amei nunca... ai! não;
E que pude a sangue-frio,
Covarde, infame, vilão,
Gozar-te - mentir sem brio,
Sem alma, sem dó, sem pejo,
Cometendo em cada beijo
Um crime... Ai! triste, não chores,
Não chores, anjo do céu,
Que o desonrado sou eu.

Perdoar-me tu?... Não mereço.
A imundo cerdo voraz
Essas pérolas de preço
Não as deites: é capaz
De as desprezar na torpeza
De sua bruta natureza.
Irada, te há-de admirar,
Despeitosa, respeitar,
Mas indulgente... Oh! o perdão
É perdido no vilão,
Que de ti há-de zombar.

Vai, vai... para sempre adeus!
Para sempre aos olhos meus
Sumido seja o clarão
De tua divina estrela.
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendê-la:
Alta está no firmamento
Demais, e demais é bela
Para o baixo pensamento
Com que em má hora a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.
Que volte a sua beleza
Do azul do céu à pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci,
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão
Donde me vem sangrar às veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe
Porque é só terra - e não cabe
Nele uma ideia dos céus...
Oh! vai, vai; deixa-me, adeus!

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
 
Não quero dizer mais nada.. mas muitas lágrimas acompanham esta postagem..

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O caminho é feito por ti!


Esta tarde, quando saía da biblioteca lá da escola, peguei num livro que estava em cima do balcão. Ao reparar que o referido era daqueles livros detestáveis de auto ajuda, logo o abri ao acaso. Era minha intenção “apanhar” um excerto que justificasse os meus pré-conceitos em relação a esse estilo de livros. Qual não é o meu espanto que encontrei isto:

«O caminho do sucesso tem um princípio e pode ter múltiplos fins, variáveis e dependentes das escolhas que fazes em cada momento.
O princípio é o agora, o fim está nos teus sonhos e o caminho é decidido em cada momento por ti. O curioso é que tu podes decidir como vais fazer o caminho e qual o destino que queres tomar. É fantástico ter esse poder, mas é ao mesmo tempo uma enorme responsabilidade
(Adelino Cunha, Nascido para triunfar)
[os negritos são meus]

Pronto! Não quero dizer mais nada.. Embora os pensamentos não parem de se processar em catadupa.. e os sentimentos nem se fala.. mas destes não sei deles, não sei onde a máquina que os processa se enfiou.. ao tempo que não sei dela.. nem quero pensar quando ela voltar..

Tenho tanto sentimento


«Não posso terminar sem um poema.. Escolhi este para te dedicar, apenas porque sei que vais gostar. Deixemos falar Fernando Pessoa:

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

in "Cancioneiro"»

domingo, 4 de novembro de 2012

No teu poema


Hoje dedico-te este poema.. ai esse «verso em branco e sem medida»..
Fica também a interpretação que a Dulce Pontes fez desta canção.. 
 
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida.

No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.

No teu poema
Existe um canto, chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano

Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra
E um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.

José Luís Tinoco (interpretado por Carlos do Carmo)