sábado, 1 de dezembro de 2012

O Encontro

«As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudade
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
 
(…)

Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
(…)»

                              Chuva, Mariza

 O tempo e o espaço tornam possível o encontro! Viver o não tempo e o não espaço no tempo e no espaço é coisa do Eterno, é coisa do Amor, é coisa do Divino!!

23/24.XI.2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Duas quadras

Duas "quadras inéditas" de Agostinho da Silva:

Fugazes talvez no tempo
nos seja eterna a essência
embora não existindo
nos existe a existência.

Não há nada no presente
que eu não louve
embora venham saudades
de futuros que não houve.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Primeiro beijo


Quero o meu primeiro beijo! Há quanto tempo eu não ouvia isto (a canção).. tem graça..

 

Recebi o teu bilhete
para ir ter ao jardim
a tua caixa de segredos
queres abri-la para mim
e tu nao vais fraquejar
ninguém vai saber de nada
juro nao me vou gabar
a minha boca é sagrada

Estar mesmo atrás de ti
ver-te da minha carteira
sei de cor o teu cabelo
sei o shampoo a que cheira
já não como, já não durmo
e eu caia se te minto
havera gente informada
se é amor isto que sinto

Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa

Promete lá outro encontro
foi tão fogaz que nem deu
para ver como era o fogo
que a tua boca prometeu
pensava que a tua língua
sabia a flôr do jasmim
sabe a chicla de mentol
e eu gosto dela assim

Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa

Primeiro Beijo, Rui Veloso

Adeus! (a Deus!!)


Andava eu a ler um livro de poemas de amor, imagine-se.. Até que parei no poema Adeus! de Almeida Garrett.. Não consegui ler mais.. Não queria nada ter lido este poema, senti-o como se fosse um presságio.. será que ele é real?!! Será que é tempo de o ler??!!

Fica o poema e tudo o resto..

Adeus! para sempre adeus!
Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora
Sinto a justiça dos céus
Esmagar-me a alma que chora.
Choro porque não te amei,
Choro o amor que me tiveste;
O que eu perco, bem no sei,
Mas tu... tu nada perdeste;
Que este mau coração meu
Nos secretos escaninhos
Tem venenos tão daninhos
Que o seu poder só sei eu.

Oh! vai... para sempre adeus!
Vai, que há justiça nos céus.
Sinto gerar na peçonha
Do ulcerado coração
Essa víbora medonha
Que por seu fatal condão
Há-de rasgá-lo ao nascer:
Há-de sim, serás vingada,
E o meu castigo há-de ser
Ciúme de ver-te amada,
Remorso de te perder.

Vai-te, oh! vai-te, longe, embora,
Que sou eu capaz agora
De te amar - Ai! se eu te amasse!
Vê se no árido pragal
Deste peito se ateasse
De amor o incêndio fatal!
Mais negro e feio no inferno
Não chameia o fogo eterno.
Que sim? Que antes isso? - Ai, triste!
Não sabes o que pediste.
Não te bastou suportar
O cepo-rei; impaciente
Tu ousas a deus tentar
Pedindo-lhe o rei-serpente!

E cuidas amar-me ainda?
Enganas-te: é morta, é finda,
Dissipada é a ilusão.
Do meigo azul de teus olhos
Tanta lágrima verteste,
Tanto esse orvalho celeste
Derramado o viste em vão
Nesta seara de abrolhos,
Que a fonte secou. Agora
Amarás... sim, hás-de amar,
Amar deves... Muito embora...
Oh! mas noutro hás-de sonhar
Os sonhos de oiro encantados
Que o mundo chamou amores.

E eu réprobo... eu se o verei?
Se em meus olhos encovados
Der a luz de teus ardores...
Se com ela cegarei?
Se o nada dessas mentiras
Me entrar pelo vão da vida...
Se, ao ver que feliz deliras,
Também eu sonhar... Perdida,
Perdida serás - perdida.

Oh! vai-te, vai, longe embora!
Que te lembre sempre e agora
Que não te amei nunca... ai! não;
E que pude a sangue-frio,
Covarde, infame, vilão,
Gozar-te - mentir sem brio,
Sem alma, sem dó, sem pejo,
Cometendo em cada beijo
Um crime... Ai! triste, não chores,
Não chores, anjo do céu,
Que o desonrado sou eu.

Perdoar-me tu?... Não mereço.
A imundo cerdo voraz
Essas pérolas de preço
Não as deites: é capaz
De as desprezar na torpeza
De sua bruta natureza.
Irada, te há-de admirar,
Despeitosa, respeitar,
Mas indulgente... Oh! o perdão
É perdido no vilão,
Que de ti há-de zombar.

Vai, vai... para sempre adeus!
Para sempre aos olhos meus
Sumido seja o clarão
De tua divina estrela.
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendê-la:
Alta está no firmamento
Demais, e demais é bela
Para o baixo pensamento
Com que em má hora a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.
Que volte a sua beleza
Do azul do céu à pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci,
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão
Donde me vem sangrar às veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe
Porque é só terra - e não cabe
Nele uma ideia dos céus...
Oh! vai, vai; deixa-me, adeus!

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
 
Não quero dizer mais nada.. mas muitas lágrimas acompanham esta postagem..

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O caminho é feito por ti!


Esta tarde, quando saía da biblioteca lá da escola, peguei num livro que estava em cima do balcão. Ao reparar que o referido era daqueles livros detestáveis de auto ajuda, logo o abri ao acaso. Era minha intenção “apanhar” um excerto que justificasse os meus pré-conceitos em relação a esse estilo de livros. Qual não é o meu espanto que encontrei isto:

«O caminho do sucesso tem um princípio e pode ter múltiplos fins, variáveis e dependentes das escolhas que fazes em cada momento.
O princípio é o agora, o fim está nos teus sonhos e o caminho é decidido em cada momento por ti. O curioso é que tu podes decidir como vais fazer o caminho e qual o destino que queres tomar. É fantástico ter esse poder, mas é ao mesmo tempo uma enorme responsabilidade
(Adelino Cunha, Nascido para triunfar)
[os negritos são meus]

Pronto! Não quero dizer mais nada.. Embora os pensamentos não parem de se processar em catadupa.. e os sentimentos nem se fala.. mas destes não sei deles, não sei onde a máquina que os processa se enfiou.. ao tempo que não sei dela.. nem quero pensar quando ela voltar..

Tenho tanto sentimento


«Não posso terminar sem um poema.. Escolhi este para te dedicar, apenas porque sei que vais gostar. Deixemos falar Fernando Pessoa:

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

in "Cancioneiro"»

domingo, 4 de novembro de 2012

No teu poema


Hoje dedico-te este poema.. ai esse «verso em branco e sem medida»..
Fica também a interpretação que a Dulce Pontes fez desta canção.. 
 
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida.

No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.

No teu poema
Existe um canto, chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano

Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra
E um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.

José Luís Tinoco (interpretado por Carlos do Carmo)

domingo, 28 de outubro de 2012

Poema OFERENDA

A eternidade não existe??!! Claro que existe! Acabei de viver momentos eternos..

Ando há semanas feito louco à procura de um poema para TI! Como é que é possível que o encontre agora, quando me sinto constrangido por saberes que estás a ler o meu humilde blog..

Aqui fica o poema que procuro há semanas.. eu sabia que alguém já o tinha escrito.. ;)


Ofereço, puro e casto, meu amor
A ti, feito e fruto da honestidade
Tão singela, tida como verdade
Por poetas e loucos, sem maior pudor

Ofereço, no ímpeto do meu ser
A vida na sua forma mais intensa,
E prometo fazer dela uma crença
No âmago tão incerto do teu querer

Ofereço as estrelas em protesto
Ao tempo, tão pouco e tão pertinente
Que carrega, deste poeta modesto

O teu olhar, inebriante e displicente
E por fim, se existe mesmo um, atesto
Que tu deixas meu viver mais contente

Petrônio Augusto Carvalho Olivieri Filho

Momentos de eternidade

Num destes domingos, dia a que habitualmente leio o jornal Público, deparei-me com uma frase de Frei Bento Domingos, na sua habitual crónica, que passo a citar: «Pertence à sabedoria descobrir o que de eterno no efémero». Esta frase invoca em mim uma temática sempre presente nas minhas reflexões. Tal como é enunciado, o que mais desejo, à maneira salomónica, é que Deus me conceda a sabedoria de ir eternizando os momentos próprios da eternidade, que tenho a graça de ir vivendo.

Entretanto encontrei, num perfil do facebook (que sigo com algum encantamento), uma citação de Fernando Pessoa: «O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis». Ora estes momentos não são mais que eternizações nesta nossa vida tão efémera, mas ao mesmo tempo tão eterna..

Resta-me deixar um poema que já conhecia há muitos anos, mas que voltei a encontrar ao acaso (se é que o acaso existe!) aquando das minhas buscas incessantes do poema para dedicar a uma pessoa tão especial e única. Ainda não é este o poema que te quero dedicar, até porque não sei se o poema que procuro já alguém o escreveu..

O Segredo é Amar

O segredo é amar. Amar a Vida
com tudo o que há de bom e mau em nós.
Amar a hora breve e apetecida,
ouvir os sons em cada voz
e ver todos os céus em cada olhar.

Amar por mil razões e sem razão.
Amar, só por amar,
com os nervos, o sangue, o coração.
Viver em cada instante a eternidade
e ver, na própria sombra, claridade.

O segredo é amar, mas amar com prazer,
sem limites, fronteiras, horizonte.
Beber em cada fonte,
florir em cada flor,
nascer em cada ninho,
sorver a terra inteira como o vinho.

Amar o ramo em flor que há-de nascer,
de cada obscura, tímida raiz.
Amar em cada pedra, em cada ser,
S. Francisco de Assis.

Amar o tronco, a folha verde,
amar cada alegria, cada mágoa,
pois um beijo de amor jamais se perde
e cedo refloresce em pão, em água!

Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas"

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um poema sobre o pensar e o sentir

Ao acaso encontrei este poema.. Tem tudo a ver com a temática pensamento versus sentimento..
 
Obrigado Fernando Pessoa!
 
Fica o poema:
 
Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

sábado, 6 de outubro de 2012

A propósito do sofrimento

Ontem fui desafiado a refletir sobre o sofrimento. É um dos temas que mais aprecio, pelo que não me esquivo a refletir sobre essa temática tão dramática, que poderá até vir a ser trágica.
Neste pequeno ensaio que me proponho escrever, muito ficará para lá da reflexão escrita. O tema é muito extenso e quero apenas aflorar alguns aspetos. Um item que ficará por refletir será a questão da dor, pura e simplesmente porque não a entendo..
Organizei este texto em diversos níveis, os níveis do sofrer.. em cada um iniciarei com uma citação ilustrativa.

Nível primeiro – a inutilidade do sofrimento

«Sofrer não serve para nada
Sofrer limita a eficiência espiritual
Sofrer é sempre culpa nossa
Sofrer é uma fraqueza.»
Cesare Pavese

Nesta citação de Cesare Pavese estão enunciadas quase todas as principais teses sobre a inutilidade do sofrimento. O autor afirma que o sofrimento impede a espiritualidade e acusa o homem de ser o causador do seu próprio sofrimento, como consequência da sua errónea ação.
Estas serão as teses que tentarei refutar nos níveis seguintes.
Não fiquemos por aqui, avancemos na profundidade do sofrimento, para que o possamos aceitar e torna-lo numa mais valia para a nossa caminhada espiritual.

Nível segundo – o sofrimento como consequência do erro

«Os homens sofrem individualmente pelas ações por eles mesmos praticadas.»
Textos Jainistas

Através de um sistema axiológico bem refletido e de uma ação consentânea com esse sistema de valores, o homem tem as ferramentas necessárias para uma realização feliz e plena da sua vida. Sempre que se afasta ou nega ou age de forma diversa, surge o erro e com este o sofrimento. 

Nível terceiro – o sofrimento como consequência do erro alheio

«Podemos suportar as desgraças que vêm do exterior: são acidentes. Mas sofrer pelas nossas próprias faltas... Ah!, é esse o tormento da vida.»
Oscar Wilde

Através desta frase de Oscar Wilde podemos compreender o sofrimento como consequência da injustiça. Quantas e quantas vezes nós fizemos tudo tão certinho e surge o incompreensível sofrimento. Sim, é dramático e difícil de aceitar quando ele surge sem a sua causa estar verdadeiramente na nossa ação. Retiremos os enganos que a nossa consciência nos possa causar. Podemos pensar que estamos “inocentes”, mas no fundo não estamos e não temos consciência disso. Mas quando estamos verdadeiramente inocentes? Quando verdadeiramente agimos como devíamos agir e o sofrimento surge? Mesmo apelidando, como Wilde, de acidentes, esse sofrimento tem alguma utilidade? Possivelmente terá, mas não serão as nossas simples e modestas forças humanas a compreender para suportar esse sofrimento.
Avancemos! O medo é que nos impede de seguir..

Nível quarto – o sofrimento como processo de ilusão/desilusão

«A causa do sofrimento humano encontra-se, sem dúvida, nos desejos do corpo físico e nas ilusões das paixões mundanas.»
Textos budistas

Não é por acaso que sou cristão.. com todo o respeito pela filosofia budista, não poderei concordar. Não quero por enquanto entrar no campo teológico, embora esta frase, sendo deste âmbito, devesse ser respondida na mesma categoria. Se o sofrimento for causado por uma desilusão, podemos correr o risco de responder levianamente afirmando que só se desilude quem se ilude. Mas o sofrimento diminui por isso? Penso que não. Aliás, há ilusões que se vão construindo sem sabermos que é ilusão. O que é uma paixão mundana? Não serão todas as paixões mundanas?! Está bem, pensemos apenas ao nível mais físico e corpóreo.. não creio que os desejos físicos frustrados, bem como as ditas paixões mundanas nos tragam alguma coisa da ordem de grandeza que é o sofrimento.. talvez nos tragam algumas dores psicológicas ou emocionais, mas não o sofrimento no seu sentido pleno.

Nível quinto – a utilidade do sofrimento

«Quem é capaz de sofrer intensamente, também pode ser capaz de intensa alegria.»
Clarice Lispector

Não posso aceitar que o sofrimento seja um polo negativo de uma qualquer bipolaridade axiológica. Não quero entrar aqui na interpretação errónea que ao longo dos séculos fizeram da dualidade em Platão, mas o mal é uma realidade que não existe. Pese embora possa manifestar-se na existência, não está de todo revestido de força ontológica, de todo! O sofrimento não é uma realidade má. Não sei se Lispector quer induzir-nos a uma certa bipolaridade, colocando o sofrimento no polo negativo e a alegria no positivo, se assim for, prova a utilidade do sofrimento, como caminho necessário e eficaz para a alegria.

Nível sexto – a consequência do sofrimento

«O sofrimento aproxima-nos de Deus.»
Santa Teresinha do Menino Jesus

Chegamos então àquilo que considero a verdadeira interpretação do sofrimento. Não direi tanto.. Apresentarei agora a minha conceção do sofrimento.
Se em vez de pensarmos o sofrimento como consequência de uma determinada ação, quer seja nossa (consciente ou inconsciente), quer seja de outrem, se pensarmos no sofrimento como causa para uma outra realidade, a interpretação do sofrimento é forçosamente diferente. Se um determinado sofrimento for causado na retidão da nossa ação ou causado por outrem sem nós termos culpa alguma, então esse sofrimento traz em si uma grande potencialidade. Esse sofrimento surge como um purificador que se transformará num bem maior.
O sofrimento, mesmo não desejado, porque aí estamos perante um raciocínio da esfera do esquizofrénico, poderá ser causa de uma realidade que pertence à Eternidade! E o que é a nossa vida senão fazer de cada momento a Eternidade?! Não procuremos sofrimento, mas nega-lo é bem pior! É recusar um bem maior.. é recusar o Amor! Sim, o Amor é Eterno! Deus é Eterno, Deus é Amor! Não há Amor fora de Deus, nem fora da Eternidade..
Então para atingir a Eternidade, para atingir o Amor, para atingir Deus, é necessário o sofrimento? Creio que não.. mas se o sofrimento surgir, então convertamo-lo e aproveitemos a oportunidade que nos é dada para vivenciar já a Eternidade, o Amor, a vida em Deus..

Post Scriptum 1: A sabedoria do povo

A sabedoria popular nunca me deixa indiferente. Claro que essa sabedoria, com todo o respeito, localiza-se, na maior parte das vezes, no âmbito do senso comum. Não obstante estas notas, porventura injustas, gostaria de trazer para aqui o seguinte provérbio popular: «Muito sofre quem ama». Então para amar verdadeiramente é necessário sofrer? De modo algum. O sofrimento é um caminho eficaz para o Amor!

Post Scriptum 2: A voz do poeta

Não posso terminar este pequeno e modesto ensaio sem evocar a voz da poesia, qual beleza que nos leva ao Amor, que nos eleva ao Amor!
Aproveito deste modo para homenagear a grande Amália, que faz hoje 13 anos que entrou definitivamente na Eternidade, no Amor, em Deus..

Foi Deus

Não sei, não sabe ninguém
Por que canto o fado
Neste tom magoado
De dor e de pranto
E neste tormento
Todo o sofrimento
Eu sinto que a alma
Cá dentro se acalma
Nos versos que canto

Foi deus
Que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas
Deu oiro ao sol
E prata ao luar
Foi deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
E pôs as estrelas no céu
E fez o espaço sem fim
Deu o luto as andorinhas
Ai, e deu-me esta voz a mim

Se canto
Não sei o que canto
Misto de ventura
Saudade, ternura
E talvez amor
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando
Se tem um desgosto
E o pranto no rosto
Nos deixa melhor

Foi deus
Que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar foi deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
Fez poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu as flores à primavera
Ai!, e deu-me esta voz a mim.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Como é estranha a minha liberdade


Como é estranha a minha liberdade
As coisas deixam-me passar
Abrem alas de vazio p'ra que eu passe
Como é estranho viver sem alimento
Sem que nada em nós precise ou gaste
Como é estranho não saber

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Saudade


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Pablo Neruda

domingo, 30 de setembro de 2012

Calar: verdade, necessidade ou cobardia?

Invertamos a ordem! Calar a realidade será uma cobardia? Ou será antes uma necessidade? Ou não é nada disto, sendo que calar poderá ser a verdade?

Sem sombra de dúvidas que se tivesse de responder à questão de forma rápida e se me dessem uma só opção, diria que calar a realidade é um puro ato de cobardia. Penso para mim mesmo que a verdade, mesmo que seja inconveniente para nós próprios, não poderá em caso algum ser calada.. É um imperativo para a minha consciência e para a minha maneira de ser de nada ocultar da realidade. Acho que não é correto calar as realidades, mesmo que possamos vir a ser prejudicados. Penso que o mundo seria bem mais fácil se nós expressássemos sempre o nosso pensamento, muitos conflitos e equívocos seriam evitados.

Por outro lado, tenho visto, e condenado, o “calar” por necessidade, como se de um esquema se tratasse para não sair mal no papel que representamos.. Bem, poderá haver esquemas cujo calar seja conveniente e salutar para alcançar determinado objetivo.. quando revelamos tudo nunca se chegará às alegrias da surpresa.. Pois é, se calhar o calar não é assim tão mau..

Quando penso na frase evangélica que refere que Maria «guardava todas estas coisas no seu coração», para além de não perceber, deixa-me desconcertado.. Não serei uma “língua de trapo” e terei o enorme defeito de dizer sempre aquilo que penso, mesmo que seja altamente inconveniente? Aquilo que considero uma virtude, a frontalidade, não será antes uma crueldade brutal que apenas manifesta o meu egoísmo? Isto dói-me por dentro.. Tanta aprendizagem ainda a fazer.. será que algum dia saberei viver??!!

Voltarei em breve a este tema.. espero ter a coragem de me poder confrontar com isto..

Sentimentos e pressentimentos

Cumprindo a promessa que fiz há três semanas, neste mesmo espaço, volto a falar de sentimentos..

Agora justificar-se-ia escrever com mais clareza e com mais vigor. Com mais clareza porque já pensei muito mais sobre o assunto e com muito mais vigor porque me foi solicitado por uma pessoa muito especial.. Mas nem será mais claro, nem com mais vigor, simplesmente porque cada vez ando mais baralhado.. ou não..

Retomando o binómio pensamento/sentimento, concluímos já que os sentimentos podem ser pensados, pelo menos alguns, do mesmo modo (ou de outro modo) os pensamentos também se podem sentimentalizar. Concluímos que estes sentimentos, consequência do processo de sentimentalização dos pensamentos, não seriam sentimentos puros, e muito menos profundos..

Se pensarmos numa nova categoria, a que chamaremos “pressentimento”, localizada a meio do processo de sentimentalização dos pensamentos.. Mesmo que um pensamento se possa sentimentalizar, passa por um estado de pré-sentimento, embora possa não ter essa necessidade e a sentimentalização faz-se por si mesma.. Ou seja, os nossos pressentimentos são pensamentos em processo de sentimentalização, que podem nunca concluir o processo..

Isto traz-me muita paz.. eu sei que não sinto, mas apenas pré-sinto.. Não, não é fruto do pensamento, se não eu compreenderia.. eu pressinto..

Fazendo um trocadilho com a palavra e usando o seu sentido vulgar, eu pressinto que este tema não ficará por aqui..

Anseios


Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não estendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!...

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quatro poemas de Sophia

Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.

 


PUDESSE EU

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes.

 

 
SENHOR

Senhor se eu me engano e minto,
Se aquilo a que chamei a vossa verdade
É apenas um novo caminho da vaidade,
Se a plenitude imensa que em mim sinto,
Se a harmonia de tudo a transbordar,
Se a sensação de força e de pureza
São a literatura alheia e o meu bem-estar,
Se me enganei na minha única certeza,
Mandai os vossos anjos rasgar
Em pedaços o meu ser
E que eu vá abandonada
Pelos caminhos a sofrer.


 

 
TERROR DE TE AMAR

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Felicidade

A felicidade sentava-se todos os dias no peitoril da janela.

Tinha feições de menino inconsolável.
Um menino impúbere
ainda sem amor para ninguém,
gostando apenas de demorar as mãos
ou de roçar lentamente o cabelo pelas faces humanas.

E, como menino que era.
achava um grande mistério no seu próprio nome.

JORGE DE SENA

Hoje a tarde trouxe-me este poema.. 
«Ainda sem amor para ninguém»

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Primeira semana de aulas


Chega ao fim a primeira semana de aulas deste ano letivo.. Sinto-me ainda nas nuvens.. Tenho esta caixinha mágica que me habita (a que vulgarmente chamamos coração) tão cheia, tão cheia de emoções, que a semana voou e eu nem tempo tive para pensar sobre cada coisa que vivi, nem tempo para as organizar, quanto mais pensar sobre cada uma delas.. Que mania esta de querer racionalizar tudo. Tenho medo que por não pensar nelas, as possa esquecer. Sei que não.. Emoções: guardo-as todas!

Neste final de tarde um pouco atribulado, lá saí da escola meio à pressa, lá vim para casa pelo meu caminho preferido, pelo meio do campo, com passagem pela Pinhoa. Mesmo na calmaria da paisagem parece que a pressa vinha comigo.. Cheguei a casa e até lá encontrei a pressa.. limpezas de final da semana: que medo! Não quero pressa, preciso de contemplar.. Bem, parece que encontrei a calma, ao cair da noite, nesta mesa de café onde me encontro, bem no centro desta minha terra..

Aguarda-me meu Deus, que amanhã temos muito que conversar.. tenho muito que te entregar desta semana.. Este regresso à minha querida escola, onde sou tão feliz, onde me entrego, muito para lá do vil metal, muito para lá das próprias emoções (e são tantas!).. Entrego-me por um ideal de vida e de felicidade.. Um dia vou ser feliz! Isto é um disparate! EU HOJE SOU FELIZ!!

Ao longo da semana conheci tanta gente, tanta gente bonita.. Não os contei, mas são mais de 200.. tanto rosto, tanta esperança, tanta inquietação, tanta ansiedade, tanta alegria.. Meu Deus tanto sorriso!!

Tanta coisa vai ficar de fora deste registo (quase tudo!), mas não posso deixar passar 2 ou 3 episódios. Logo na segunda-feira comecei por receber a única turma de alunos conhecidos: a malta do 12.º ano. Que alegria! Frisei bem que estávamos no princípio do fim.. E estamos.. Pois é, a malta do 12.º ano começa agora a sua saída da secundária, mais uma etapa se aproxima, a rutura impõe-se, é preciso cortar as amarras.. Parece que este “discurso” teve um eco bem mais profundo do que eu esperava..

Recordo-me agora da conversa, na terça-feira, com os meninos de economia acabadinhos de chegar à escola secundária.. O secundário passa num instante (já não chega a faltar 9 períodos escolares) e o acesso à faculdade já começou, a partir de agora tudo conta. É urgente estabelecer metas, objetivos bem claros. Que faculdade, que curso, que média precisa de ser alcançada..

Durante a minha intervenção disse aos alunos que deveriam ir à BE/CRE, que ia lá deixar o jornal que continha as notas dos últimos colocados em cada curso/faculdade. Então não é que hoje (sexta-feira) o meu aluno “pseudo-rebelde” quando me encontrou na biblioteca me perguntou pelo jornal.. fui logo busca-lo ao carro.. O meu “ralhete” até sortiu algum efeito..

E o encanto dos meninos, dos meus “bébés” do 1.º ciclo.. ai que aventura!! Tanta história, tanta emoção.. Registo apenas uma. Hoje foi a vez de ir à Marteleira.. Quando acompanhei o grupo dos 3.º e 4.º anos para o refeitório e me preparava para “pegar” no grupo dos 1.º e 2.º anos, um menino do primeiro grupo salta da mesa e vem ter comigo, puxa-me e diz: «acho que vou gostar de ti!», não reagi.. também não dava tempo, pois ele logo desatou numa correria em busca do alimento, que a fome já apertava..

Se no início da semana pressenti que este ano ia prometer, agora tenho a certeza desse sentimento.. E eu não falei do resto.. mas isso agora não interessa nada, como diz a minha amiga Teresa.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Passei toda a noite

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Dar e Receber

Com o meu canto
Eu quero lhe encantar
Lhe embalar com o meu som
Embriagar
Fazer você ficar feliz
Cantarolar
Lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá...(2x)

Capitando a energia
Desse seu lalalalá
Sigo a filosofia
Que é bom receber e dar...

Eu quero dar
Eu quero dar
Eu quero dar
E receber
E receber
E receber
Fazer, fazer
Me refazer fazendo amor
Sem machucar seu coração
Sem me envolver...(2x)

Mas se você se apaixonar
Me quiser numa total
Vai ter que ficar comigo
Coladinho a meu umbigo
De maneira visceral
Vou expor minhas entranhas
Lhe darei muito prazer
E bem prazerosamente
Vou abrir mão dos meus sonhos
Prá viver só com você...

Mas se você se apaixonar
Me quiser numa total
Vai ter que ficar comigo
Grudadinha ao meu umbigo
De maneira visceral
Vou expor minhas entranhas
Lhe darei muito prazer
E bem prazerosamente
Vou abrir mão de meus sonhos
Prá viver só com você...
Eu quero dar
Eu quero dar
Eu quero dar
E receber
E receber
E receber
Fazer, fazer
Me refazer fazendo amor
Sem machucar seu coração
Sem me envolver...(5x)

domingo, 16 de setembro de 2012

Regresso(s) à escola!

Em vésperas (literalmente a escassas horas, como fez questão de me recordar a minha querida G & C) do 1.º dia de aulas a ansiedade é mais que muita..

É o início do novo ano e portanto é sempre um desafio..
É o início de uma nova aventura:  meninos do 1.º ciclo preparem-se..
É o regresso à minha querida escola secundária..

Se o início de um qualquer ano letivo provoca em mim uma emaranhado de emoções, sempre boas e positivas, este ano tem um sabor especial..

Futuro!!

Esta postagem é dedicada a alguém especial, mesmo que não saiba..
 
Para mim a música, mesmo fazendo-nos voar pela eternidade, não é mais que o suporte da palavra, do poema.. Mas desta vez foi diferente.. ouvi sem querer esta música na rádio e "adorei".. depois de muita pesquisa encontrei este poema do Ary dos Santos e o espanto foi enorme.. Gosto, gosto muito.. Apesar do poema dizer muito, saliento a seguinte quadra:
 
          Sei meu amor inventado que um dia
          Teu corpo há-de acender
          Uma fogueira de sol e de fúria
          Que nos verá nascer

O sol?! Sim, o sol.. e mais não digo, sinto..
 
Fica então a Canção de Madrugar:
 
De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei ...

Sei dos teus olhos acesos na noite
Sinais de bem despertar
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar ...

Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo pode acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer

Irei beber em ti
O vinho que pisei
O fel do que sofri
E dei

Dei do meu corpo um chicote de força
Rasei meus olhos com água
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa

Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas alarguei cidades
E construí poetas

E nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não logrei
Mas quis quis

Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer

Então:

Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos,
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas,
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas,
Nem forcas, nem cardos, nem dardos, nem guerras
Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos,
Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas,
Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas,
Nem mal ... ... ...

__________________________________________________

Apesar da versão original ter sido de Hugo Maia Loureiro (Festival da Canção 1970), deixo aqui a interpretação de Susana Félix:

O Espírito que nos vivifica

Na liturgia deste domingo consta a seguir oração:

Senhor nosso Deus,
concedei que este sacramento celeste
nos santifique totalmente a alma e o corpo,
para que não sejamos conduzidos pelos nossos sentimentos
mas pela virtude vivificante do vosso Espírito.

Na sequência da última postagem, posso dizer que esta "virtude vivificante" é o nosso sentimento mais profundo, enquanto que "os nossos sentimentos" são as emoções mais humanas e ligeiras..

domingo, 9 de setembro de 2012

O sentimento para lá da emoção

Há sentimentos que vão para lá das emoções.. Há sentimentos que vão muito para lá dos pensamentos..

Pensamentos? Sentimentos? Emoções? Não será tudo o mesmo??!! Claro que não!!

Então façamos uma distinção clara entre os pensamentos e os sentimentos e emoções.
Vou deixar de falar de emoções, como se fossem a mesma realidade que os sentimentos.
Os pensamentos são o resultado da inteliência (do nosso intelecto) e os sentimentos são os frutos da espiritualidade (da nossa caixinha mágica que nos habita, a que vulgarmente apelidados de coração).

Passarei a partir de agora, nesta postagem a falar de pensamentos e sentimentos no singular. Sendo que pensamento é o próprio exercício racional e já não o(s) conteúdo(s) desse mesmo exercício. No entanto ao falar de sentimento, e não de sentimentos, esse sentimento é apenas o isolamento de um só sentimento, mas que continua a pertencer à classe dos sentimentos.

- E as emoções, e a emoção?
- Não vou falar!
- Porquê?
- Porque não!
- Mas "porque não" não é resposta, só as coisas do coração é que são "porque sim" e porque não".
- Então e as emoções não são coisas do coração?
- Pois, são!
- Então não falemos de emoções, nem de emoção, mas continuemos a falar de coisas do coração!

Entremos então na ideia principal desta postagem, no fundo a razão de ser destas palavras que conjugo com dificuldade. Há sentimentos que podem ser pensados, refletidos, compreendidos.. há outros porém que apenas os reconhecemos mas nada podemos afirmar sobre a sua razão de ser, não tão pouco sobre a sua causa..
Então.. também há pensamentos que possam ser sentidos? Pensamentos pensados que se sentimentalizam? Mas um pensamento sentimentalizado nunca será um sentimento puro, daqueles nascido da profundeza do nosso coração. Mas o nosso intelecto pode por sua vez realizar o seu trabalho sobre esse sentimento, que não é mais que pensar sobre um pensamento mascarado de sentimento, mas não um verdadeiro sentimento..
E se isso for verdade? Como reconhecer o que pensamos e o que sentimos? Como reconhecer o que sentimos, mas que efetivamente não sentimos mas pensamos?
Pode o coração enganar o pensamento? Não, creio que não. Mas o pensamento também não pode enganar o coração. Pode o pensamento enganar-nos a nós próprios, pode até servir-se do coração para nos enganar.. Isto é terrível!

Será emoção o pensamento sobre um pensamento sentimentalizado? Ou melhor será que esse pensamento sentimentalizado que não é sentimento mas sim emoção? Não sei! E isto é terrível!

Um dia (brevemente) voltarei a este tema.. Digo brevemente porque isto assalta-me o coração e a mente todas as horas destes dias que vão passando devagar, tão devagar que nem dou por eles passarem tão rápido..

sábado, 8 de setembro de 2012

Dá-me uma gota de ti

PEDRO BARROSO, in Álbum: Cantos da Paixão e da Revolta (2012)

(Autor da letra e da música)

Dá-me uma gota de ti
Uma palavra que seja
Despida de todos os sinais
Vestida noutro lugar
Onde apitem vendavais
E gaivotas a cantar

Dá-me uma flor desfolhada
Com seiva de água na boca
E lonjuras de moinhos
Como alquimias de vento
A rasgar céus em pedaços
Como estilhaços do tempo

Dá-me um chá preto das cinco
E o Bolero de Ravel
Com a pauta sussurrada
Entre beijos no meu peito
Lábios carnudos que eu sinto
E o sabor da tua pele

Dá-me um trago de ti mesma
Em copo de ouro e cristal
P'ra que escondidos na noite
Celebremos o teu corpo
Com excessos soletrados
Num desrespeito total