sábado, 25 de julho de 2009

Leituras de LUNÁRIO




Numas leituras menos próprias, não aconselhadas a quem tem alguma dignidade, vi-me tentado a reler Lunário, de Al Berto.. e não é que caí mesmo em tentação.. e acabei por ler hoje o Lunário..
Não sei se transmite alguma mensagem.. mas é de tão baixo nível, que chega mesmo a ser grosseiro..
Não obstante estas considerações passo a citar algumas frases que me fizeram reler duas e três vezes as mesmas palavras..

«O corpo, esse país mais ou menos habitável, em que nada lhe lembrava aquele outro país geograficamente definido nos mapas, e que toda a gente insistia em dizer-lhe que era o seu país. O corpo invocava-lhe sempre outro sitio luminoso, distante, onde podia agir e respirar, pensar e mover-se livremente. Território semelhante à noite das cidades em que se perdessem, ele e o seu corpo, propositadamente, para se abastecer de sexo, de renovados desejos, inesperadas seduções, pequenos perigos e emoções.»

«Será possível um corpo ter muitos rostos? E um rospo deixar indeléveis vestígios na passagem por muitos corpos? Não consegue encontrar resposta. Nem tem noção do que perdeu, e de como perdeu. Apenas precente que nessa perda a sua vida se eternizou. Por isso sobrevive sem projectos. O que tinha a fazer, já fez.»

«Nunca se regressa ao que se abandonou.»

«Não me abandones ainda, porque um morto, sabes precisa de ternura, mesmo que seja a coisa menos sintilante que há... Porque o tempo e o esquecimento dos vivos corrói-o até aos ossos, muito mais depressa que os vermes, e fica sem graça, e não há espelho que se atreva a reflectir tamanha melancolia... ...um morto é a coisa mais melancolica que existe... só vive e ocupa espaço na memória dos que por ai ficaram, desse lado. Mas os vivos não enchem a memória de um morto. Um morto tem como destino apagar-se para sempre, apesar de muito o terem amado, apagasse... esteja ele onde estiver...»

«Amo Beno, e penso em mim como se pensasse nele, e nas suas mãos guardo a asaudade que das minhas hei-de sentir...»

«Quando Zohía começara a despir-se e a enrolar-se violentamente num lençol, e a sair assim para a rua, falára daquele tigre enjaulado. Dissera que não podia mais mante-lo prisioneiro, e que as garras dele a dilaceravam por dentro. Precisava de o deixar fugir quanto antes, de o devolver à selva nocturna das cidades.»

«Sentimo-nos cansados, um cansaço semelhante à flor que murcha por excesso de luz, ou por falta de água. Não sei... talvez coisas de bêbedos. Nada que tenha verdadeira importância. Beno chorou, mas eu não consegui.»

«Fugir. Descer do cimo da minha razão por uma corda de chuva, vestir-me com a humidade verde das plantas, adquirir asas e reaver a memória de um mundo primordial.»

«Beno estava vazio, sentia-se oco, abandonado. Mas, apesar dessa sensação de frio, crescia dentro dele a certeza de que Nému, e todos os outros, eram agora órgãos do seu corpo, faziam parte dele - e, dispersos, vivos ou mortos, pertenciam-lhe para sempre, enquanto vivesse.»

(recolhas de um já não assumido lunático)

3 comentários:

Inês disse...

Eu até gostei de algumas partes que pôs aqui... mas não lia o livro de certeza...

Bé disse...

Enfim, leituras complexas.. E talvez por isso mesmo, menos próprias..

Bé disse...

Enfim, leituras complexas.. E talvez por isso mesmo, menos próprias..