domingo, 28 de outubro de 2012

Momentos de eternidade

Num destes domingos, dia a que habitualmente leio o jornal Público, deparei-me com uma frase de Frei Bento Domingos, na sua habitual crónica, que passo a citar: «Pertence à sabedoria descobrir o que de eterno no efémero». Esta frase invoca em mim uma temática sempre presente nas minhas reflexões. Tal como é enunciado, o que mais desejo, à maneira salomónica, é que Deus me conceda a sabedoria de ir eternizando os momentos próprios da eternidade, que tenho a graça de ir vivendo.

Entretanto encontrei, num perfil do facebook (que sigo com algum encantamento), uma citação de Fernando Pessoa: «O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis». Ora estes momentos não são mais que eternizações nesta nossa vida tão efémera, mas ao mesmo tempo tão eterna..

Resta-me deixar um poema que já conhecia há muitos anos, mas que voltei a encontrar ao acaso (se é que o acaso existe!) aquando das minhas buscas incessantes do poema para dedicar a uma pessoa tão especial e única. Ainda não é este o poema que te quero dedicar, até porque não sei se o poema que procuro já alguém o escreveu..

O Segredo é Amar

O segredo é amar. Amar a Vida
com tudo o que há de bom e mau em nós.
Amar a hora breve e apetecida,
ouvir os sons em cada voz
e ver todos os céus em cada olhar.

Amar por mil razões e sem razão.
Amar, só por amar,
com os nervos, o sangue, o coração.
Viver em cada instante a eternidade
e ver, na própria sombra, claridade.

O segredo é amar, mas amar com prazer,
sem limites, fronteiras, horizonte.
Beber em cada fonte,
florir em cada flor,
nascer em cada ninho,
sorver a terra inteira como o vinho.

Amar o ramo em flor que há-de nascer,
de cada obscura, tímida raiz.
Amar em cada pedra, em cada ser,
S. Francisco de Assis.

Amar o tronco, a folha verde,
amar cada alegria, cada mágoa,
pois um beijo de amor jamais se perde
e cedo refloresce em pão, em água!

Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas"

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